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sábado, fevereiro 14

Morte e Luto, de acordo com a tradição dos Karajás (iny)

    O conceito e a prática de respeito na cultura do povo Iny Mahadú é algo forte que predomina até os dias de hoje. Ensinar bons modos, não significam apenas se comportar de forma adequado e reverente diante dos adultos, ou, até mesmo das crianças. É uma ligação forte de tudo aquilo que é ensinado, visto e feito coletivamente. Respeitar, é um princípio de beleza interna do povo iny, tornando-os ainda mais belos, pela sutileza de seu caráter puro e educado.
    A coletividade sempre foi um ponto forte dos inys, desde a divisão dos alimentos, da caça, da pesca, da plantação, até à semente para plantar alimentos fartos para a próxima roça. Mas quero destacar em especial o LUTO. O luto para os inys, é a maior demonstração de respeito. Consideramos a vida como uma forma de deixar legado no povo,e viver intensamente até o fim de sua vida. O nascimento do primeiro filho, que significa “ADELÁ” no iny rybé, (dialeto) do povo iny, é um motivo de festa para a família, é recebido com honra pelos avós, é amado intensamente pela família, não que os outros filhos não sejam, mas o ADELÁ tem seus privilégios. Isso geraria outro texto, pois é complexo.
    O luto na cultura do povo iny, como disse acima, é a maior demonstração de respeito, momento em que a aldeia fica em silêncio, interrompe seus afazares, crianças que banham o dia todo no rio, deixa a canoa de lado como resposta de respeito. A própria natureza nos ensinou essa prática tão importante, o rio se acalma, o vento suave, balança levemente as folhas das árvores tristes, o brilho do sol ofuscado, a lua se gurda e as estrelas se escondem atrás das núvens. A morte não é um motivo de alegria para o povo iny, é um momento doloroso as quais compartilham juntos.
   Este respeito tão admirável, dura em torno de 5 dias, nesse período é apenas ouvido o som da voz do choro, esse choro é cantado, tanto pelo Homem e mais comum pelas Mulheres. Uma espécie de canto, de inconformidade, um canto que ao passar dos dias vai ficando mais suave, delicado, lembrando dos bons tempos do facelicido. Os inys que praticam esse canto, são ensinados desde crianças pelos avós, pois escorrer apenas em forma de lágrimas a sua dor, é motivo de vergonha para a família.
   No enterro, toda a aldeia acompanha o momento. Cavar logicamente é a tarefa dos homens, e, os pertences do falecido é enterredo junto à ele. É colocado na mão o alimento que mais apreciava durante o período em que viveu. Os inys também, no momento levam ao cemitério, água e alimentos para oferecer ao mortos e acendem uma pequena fogueira no túmulo dos parentes falecidos, na parte da cabeça, representando que o fogo afaste os maus espíritos.
   Ao ir no cemitério deve tomar cuidado por onde pisa, pois quando um pé pisa num túmulo significa que a morte está o chamando. Outro detalhe, os inys ao se alimentarem, oferecem, antes de consumir o alimento aos Worysy, também, antes da caça suplicam pela proteção do Worysy. Isso significa temor e reverência aos Worysy, que na verdade são os próprios falecidos, que em forma de Worysy ainda habitam no meio dos inys.
   Esta tradição mantém-se até os dias de hoje, respeitar o luto é a forma mais admirável de apresentar um povo tão rica em cultura diversificada, o respeito que os inys tem, é a beleza simples que os caracteriza, além de muitas outras tradições típicas e característica dos belos Iny Mahadú isso é apenas uma parte de muitas outras tradições.


 Mairu Hakuwi Kuady.

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